Um texto sobre Ditadura Militar, escrito em tempos de
Ditadura Militar e na ótica do Destacamento de Operação e Informação - Centro
de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). Este é o cenário que permeia
“Fábrica de Chocolate”, espetáculo que o Teatro da Neura estreia, neste sábado,
às 20 horas, em sua sede, o Espaço N de Arte e Cultura.
Com direção de Amabile Luz e dramaturgia de Mario Prata, a
peça permanece em cartaz até o dia 30, sendo apresentada aos sábados e
domingos.
Encenado nos Centros Educacionais Unificados (CEUs), em São
Paulo, “Fábrica de Chocolate” conta a história de um homem, que, após ser
torturado, "cometeu suicídio", segundo o órgão repressor. A peça faz
uma alusão ao caso do jornalista Vladimir Herzog, morto há 41 anos pelo
DOI-CODI. Versão reconhecida pelo Estado apenas em 2012. Até então, pregava-se
que após um "depoimento", o jornalista havia se enforcado.
De acordo com Amabile, o texto escrito por Prata é atual,
devido ao período que vivemos no Brasil, iniciado nos protestos de 2013 pela
diminuição das tarifas nos transportes públicos, a brutalidade na contenção na
ocupação dos estudantes nas escolas, o impeachment da ex-presidente Dilma
Rousseff e a chegada ao poder do vice Michel Temer.
“Os agentes da repressão do passado se assemelham com a
polícia que atira em manifestante, prende estudante dentro da escola e aborda
negro na periferia. O texto é muito dinâmico e optamos por acrescentar um
prólogo, com dramaturgia de Antônio Nicodemo e direção de Fernandes Junior,
onde teremos uma tropa de choque de batedores de panela, uma mulher dando voz
às outras, um alienado conveniente”, comenta.
Convite à reflexão
“Fábrica de Chocolate”, que foi apresentada em 2014 como
leitura encenada, no Espaço N, e transformada em peça neste ano, para ser
encenada nos CEUs, convida o público à reflexão sobre o nosso passado e para
onde estamos caminhando. Isso porque desde 2013, quando Amabile selecionou o
texto, o País passou por transições importantes.
"Selecionei o texto para leitura, meses depois
aconteceram as manifestações de junho de 2013. Manifestações por ora legítimas
e com pautas plausíveis, mas que foram tomadas de um exagerado nacionalismo e
acabaram por fortalecer o aparecimento de grupos neonazistas, fascistas e
militaristas. Dois anos depois, ocupamos o Espaço N com a leitura encenada, e,
no começo de 2016 fomos contratados para apresentar nos CEUs. Não imaginávamos
que nos apresentaríamos às vésperas do golpe”, finaliza.
Serviço
Fábrica de Chocolate
Data: 22, 23, 29 e 30/10
Horário: 20h
Local: Espaço N de Arte e Cultura - Rua José Garcia de
Souza, 692, Jardim Imperador, Suzano
Valor: R$ 12
Classificação: 16 anos
Foto: Giulia Martins
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